No último domingo à tarde aconteceu o primeiro encontro entre o pessoal do bi-sides e do Espaço B em Sampa. Nos encontramos no Parque do Trianon. O papo foi uma delícia. O pessoal do bi-sides é uma galerinha bem jovem (na faixa dos 20 anos) e estávamos em 8 pessoas reunidas no parque em plena hora do jogo do Brasil... O que a vontade de encontrar pessoas e conversar não faz!? (risos)
Falamos de movimento, relacionamentos, argumentos preconceituosos, discriminação na escola e de relações familiares, mas sobretudo de nossa falta de lugar no mundo e da falta de com quem conversar num mundo que parece estar mesmo dividido entre homos e heteros por estes tempos.
Estávamos bem ansiosos por encontrar companhia e fazer alguma coisa em relação a essa situação. Em breve, teremos o 4o. Encontro Paulista LGBT (1-3 de julho em São Carlos na UFSCar). Conversamos a respeito e decidimos fazer uma ação educativa e de fortalecimento de nós mesmxs por lá. Estamos propondo uma oficina sobre Bissexualidades, vulnerabilidades e insersão no movimento LGBT, que será oferecida pela galera do Espaço B e do bi-sides. Quem estiver por lá vai participar da 2a. Parada LGBT de São Carlos, no dia 04.
Se você for de São Paulo e estiver a fim de ir ao Encontro Paulista LGBT, fale com a gente pelo email disponível na parte de contatos do blog. As inscrições vão até amanhã (26/06). Afinal, fazer uma oficina aberta sobre o tema e irmos juntos a uma Parada é algo inédito!
Espaço de expressão e de informação para quem se sente bissexual ou quer saber mais a respeito
sexta-feira, 25 de junho de 2010
terça-feira, 22 de junho de 2010
Dissolução do Coletivo Brasileiro de Bissexuais (agosto de 2007)
Prezadas/os companheiras/os e parceiras/os,
Vimos por esta comunicar de público nossa discordância da forma como foi conduzido o processo de indicação de representantes do Coletivo Brasileiro de Bissexuais ao Seminário Nacional de Saúde de GLBTT e nosso afastamento desse Coletivo.
Muitos de nós participamos do momento de criação do Coletivo no XII EBGLT em 2005 e lutamos muito para que a organização política em favor do direito de bissexuais existisse no Brasil. O CBB se constituiu como uma Rede de ativistas que atuam politicamente pelos direitos de bissexuais e nos propusemos a tarefa de ampliar a mobilização de ativistas bis no Brasil e as discussões a respeito do tema no movimento GLBT e nos espaços de controle social e construção de políticas públicas, bem como aprofundar a discussão sobre direitos, demandas e organização política de bissexuais entre os próprios ativistas do Coletivo.
No entanto, consideramos que a realização dessas tarefas tem sido prejudicada pelas dificuldades de articulação colocadas por termos como espaço exclusivo de discussão e construção coletiva uma lista de discussão de internet, que ao que tudo indica tem sido insuficiente para manter as/os ativistas mobilizadas/os e articuladas/os.
Por outro lado, percebemos também dificuldades com relação aos processos de indicação de representantes para espaços de controle social e construção de políticas públicas.
No processo que se deu para a participação no Seminário de Saúde de GLBTT, houve a princípio uma auto-indicação de um dos integrantes do Coletivo, que encaminhou sua ficha para participação na Comissão Organizadora em detrimento do ativista que havia sido referendado pelo Coletivo, de modo que quando o segundo foi encaminhar sua ficha foi informado pelo primeiro de que ele já havia encaminhado a sua. Tal fato só foi relatado ao Coletivo quando outra integrante postou os nomes dos integrantes da referida Comissão e não constava o nome que foi indicado, mas o outro.
Posteriormente, no processo de indicação de participantes pelo CBB, as/os integrantes foram orientadas/os pelo então "representante" do Coletivo na Comissão de que havia o limite de um nome por estado e que as fichas deviam ser encaminhadas a ele com cópia para a técnica do Ministério da Saúde responsável. Desse modo, os nomes encaminhados não foram referendados pelas pessoas que integram a lista de discussões do Coletivo e só casualmente chegaram ao conhecimento de uma das integrantes do mesmo, que iniciou uma discussão sobre a validade da indicação pelo CBB de nomes de ativistas que não fazem parte da lista do Coletivo e de nenhuma das entidades que tinham ativistas participando da lista no momento da indicação.
O resultado da discussão foi a manifestação de 14 integrantes da lista, que inclui 28 nomes, sendo que, destes, 13 questionaram a condução do processo e/ou discordaram da indicação de nomes de ativistas de outrossegmentos em detrimento do protagonismo político de ativistas auto-identificados politicamente com a luta pelos direitos de bissexuais.
Os 13 integrantes que discordaram do processo de indicação foram: Regina Facchini (Espaço B/APOGLBT - SP), Dino Alves (Pró-Vida - AL), Rodrigo Braga do Couto Rosa (Identidade e NUDU/Campinas - SP), Ronaldo Gomes das Neves (Viva a Diversidade - Diadema/SP), Rosa Maria Rodrigues de Oliveira (ativista em atuação na universidade - SC), Cristiane Marçal (Identidade e NuDU - Campinas/SP), Alexandre Santos
(Espaço B/APOGLBT - SP), Tatiana Maurano (CASVI - Piracicaba/SP), Alexandra Martins (LBL - DF), Vera Couto (EntreBis/Movimento D'Ellas - RJ), Rachel Falivene (ColméiaBi/Moleca - Campinas/SP), Cris Simões (ABL- RJ), Lucienne Rebelo (GLBTTs Socialistas - SP).
O "representante", no entanto, seguiu desqualificando as manifestações que ocorriam e recusando-se a tomar como legítima a manifestação da parte das/os inscritas/os na lista que se dispunham a opinar sobre o tema. Pressionado pelo envio de informações da discussão por um dos integrantes da lista diretamente à técnica do Ministério, o "representante" selecionou e repassou alguns dos emails trocados na lista.
A técnica do Ministério atuante na articulação do Seminário, por sua vez, decidiu questões como a indicação de dois nomes pelo estado de Alagoas, adotando como critério estabelecido por conta própria a seleção da ficha que chegou primeiro (a de um ativista que não milita no movimento de bissexuais e cujo grupo de base não tinha sequer representante inscrito na lista do CBB).
Ainda, a mesma técnica manifestou-se dizendo que aguardava o posicionamento do CBB transmitido pelo "representante", embora soubesse que a posição pessoal do mesmo, além de não ser consensual na Rede, era também minoritária. Além disso, ignorou manifestações individuais e emails repassados pelo próprio "representante" que demonstravam a fragilidade política do processo conduzido no CBB, permitindo que representantes não referendados chegassem a ser apoiados com recursos públicos para participarem do Seminário.
É assim, com pesar, que tornamos públicas nossa discordância em relação à condução dada a esse processo e nossa decisão de nos afastarmos do CBB, a fim de nos dedicarmos ao fortalecimento do movimento na base e evitar que nossas atuações locais sejam usadas para legitimar nomes de "representantes" que nunca priorizaram a defesa dos direitos de bissexuais em sua atuação.
Ressaltamos também que não reconhecemos como legítimos os resultados da representação de segmento feita por ativistas que não foram referendados pela Rede a qual pertencíamos, uma vez que o tempo a ser dedicado à discussão de propostas foi todo gasto com debates sobre a legitimidade do processo de indicação de representantes e que alguns dos indicados a representarem o Coletivo - 03 deles - sequer chegaram a entrar em contato direto com a lista que serve de espaço de articulação do CBB.
Reafirmamos ainda nossa crença na importância da articulação em âmbito nacional. No entanto, entendemos que nos voltarmos prioritariamente ao fortalecimento das ações locais e regionais é estratégico para a estruturação do movimento em favor dos direitos de bissexuais e que a retomada do projeto de uma Rede Nacional pode ser feita assim que as bases do movimento estejam mais fortalecidas.
Atenciosamente,
Alexandra Martins Costa - LBL - Brasília/DF
Alexandre Santos - Espaço B/Assoc. da Parada do Orgulho GLBT e Rede Paulista de Bissexuais - São Paulo/SP
Cris Simões - ABL - Rio de Janeiro/RJ
Rachel Falivene - Colméia Bi/Moleca e Rede Paulista de Bissexuais - Campinas/SP
Regina Facchini - Espaço B/Assoc. da Parada do Orgulho GLBT e Rede Paulista de Bissexuais - São Paulo/SP
Rodrigo Canuto - EntreBis/Movimento D'Ellas - Rio de Janeiro/RJ
Rosa Maria Rodrigues de Oliveira - ativista independente - Florianópolis/SC
Ronaldo Gomes Neves - Viva a Diversidade e Rede Paulista de Bissexuais -
Diadema/SP
Rodrigo Braga do Couto Rosa - Identidade - Grupo de Ação Pela Cidadania LGTTB, NuDU - Núcleo de Diversidade Sexual da Unicamp e Rede Paulista de Bissexuais - Campinas/SP
Tatiana Maurano - CASVI e Rede Paulista de Bissexuais - Piracicaba/SP
Vimos por esta comunicar de público nossa discordância da forma como foi conduzido o processo de indicação de representantes do Coletivo Brasileiro de Bissexuais ao Seminário Nacional de Saúde de GLBTT e nosso afastamento desse Coletivo.
Muitos de nós participamos do momento de criação do Coletivo no XII EBGLT em 2005 e lutamos muito para que a organização política em favor do direito de bissexuais existisse no Brasil. O CBB se constituiu como uma Rede de ativistas que atuam politicamente pelos direitos de bissexuais e nos propusemos a tarefa de ampliar a mobilização de ativistas bis no Brasil e as discussões a respeito do tema no movimento GLBT e nos espaços de controle social e construção de políticas públicas, bem como aprofundar a discussão sobre direitos, demandas e organização política de bissexuais entre os próprios ativistas do Coletivo.
No entanto, consideramos que a realização dessas tarefas tem sido prejudicada pelas dificuldades de articulação colocadas por termos como espaço exclusivo de discussão e construção coletiva uma lista de discussão de internet, que ao que tudo indica tem sido insuficiente para manter as/os ativistas mobilizadas/os e articuladas/os.
Por outro lado, percebemos também dificuldades com relação aos processos de indicação de representantes para espaços de controle social e construção de políticas públicas.
No processo que se deu para a participação no Seminário de Saúde de GLBTT, houve a princípio uma auto-indicação de um dos integrantes do Coletivo, que encaminhou sua ficha para participação na Comissão Organizadora em detrimento do ativista que havia sido referendado pelo Coletivo, de modo que quando o segundo foi encaminhar sua ficha foi informado pelo primeiro de que ele já havia encaminhado a sua. Tal fato só foi relatado ao Coletivo quando outra integrante postou os nomes dos integrantes da referida Comissão e não constava o nome que foi indicado, mas o outro.
Posteriormente, no processo de indicação de participantes pelo CBB, as/os integrantes foram orientadas/os pelo então "representante" do Coletivo na Comissão de que havia o limite de um nome por estado e que as fichas deviam ser encaminhadas a ele com cópia para a técnica do Ministério da Saúde responsável. Desse modo, os nomes encaminhados não foram referendados pelas pessoas que integram a lista de discussões do Coletivo e só casualmente chegaram ao conhecimento de uma das integrantes do mesmo, que iniciou uma discussão sobre a validade da indicação pelo CBB de nomes de ativistas que não fazem parte da lista do Coletivo e de nenhuma das entidades que tinham ativistas participando da lista no momento da indicação.
O resultado da discussão foi a manifestação de 14 integrantes da lista, que inclui 28 nomes, sendo que, destes, 13 questionaram a condução do processo e/ou discordaram da indicação de nomes de ativistas de outrossegmentos em detrimento do protagonismo político de ativistas auto-identificados politicamente com a luta pelos direitos de bissexuais.
Os 13 integrantes que discordaram do processo de indicação foram: Regina Facchini (Espaço B/APOGLBT - SP), Dino Alves (Pró-Vida - AL), Rodrigo Braga do Couto Rosa (Identidade e NUDU/Campinas - SP), Ronaldo Gomes das Neves (Viva a Diversidade - Diadema/SP), Rosa Maria Rodrigues de Oliveira (ativista em atuação na universidade - SC), Cristiane Marçal (Identidade e NuDU - Campinas/SP), Alexandre Santos
(Espaço B/APOGLBT - SP), Tatiana Maurano (CASVI - Piracicaba/SP), Alexandra Martins (LBL - DF), Vera Couto (EntreBis/Movimento D'Ellas - RJ), Rachel Falivene (ColméiaBi/Moleca - Campinas/SP), Cris Simões (ABL- RJ), Lucienne Rebelo (GLBTTs Socialistas - SP).
O "representante", no entanto, seguiu desqualificando as manifestações que ocorriam e recusando-se a tomar como legítima a manifestação da parte das/os inscritas/os na lista que se dispunham a opinar sobre o tema. Pressionado pelo envio de informações da discussão por um dos integrantes da lista diretamente à técnica do Ministério, o "representante" selecionou e repassou alguns dos emails trocados na lista.
A técnica do Ministério atuante na articulação do Seminário, por sua vez, decidiu questões como a indicação de dois nomes pelo estado de Alagoas, adotando como critério estabelecido por conta própria a seleção da ficha que chegou primeiro (a de um ativista que não milita no movimento de bissexuais e cujo grupo de base não tinha sequer representante inscrito na lista do CBB).
Ainda, a mesma técnica manifestou-se dizendo que aguardava o posicionamento do CBB transmitido pelo "representante", embora soubesse que a posição pessoal do mesmo, além de não ser consensual na Rede, era também minoritária. Além disso, ignorou manifestações individuais e emails repassados pelo próprio "representante" que demonstravam a fragilidade política do processo conduzido no CBB, permitindo que representantes não referendados chegassem a ser apoiados com recursos públicos para participarem do Seminário.
É assim, com pesar, que tornamos públicas nossa discordância em relação à condução dada a esse processo e nossa decisão de nos afastarmos do CBB, a fim de nos dedicarmos ao fortalecimento do movimento na base e evitar que nossas atuações locais sejam usadas para legitimar nomes de "representantes" que nunca priorizaram a defesa dos direitos de bissexuais em sua atuação.
Ressaltamos também que não reconhecemos como legítimos os resultados da representação de segmento feita por ativistas que não foram referendados pela Rede a qual pertencíamos, uma vez que o tempo a ser dedicado à discussão de propostas foi todo gasto com debates sobre a legitimidade do processo de indicação de representantes e que alguns dos indicados a representarem o Coletivo - 03 deles - sequer chegaram a entrar em contato direto com a lista que serve de espaço de articulação do CBB.
Reafirmamos ainda nossa crença na importância da articulação em âmbito nacional. No entanto, entendemos que nos voltarmos prioritariamente ao fortalecimento das ações locais e regionais é estratégico para a estruturação do movimento em favor dos direitos de bissexuais e que a retomada do projeto de uma Rede Nacional pode ser feita assim que as bases do movimento estejam mais fortalecidas.
Atenciosamente,
Alexandra Martins Costa - LBL - Brasília/DF
Alexandre Santos - Espaço B/Assoc. da Parada do Orgulho GLBT e Rede Paulista de Bissexuais - São Paulo/SP
Cris Simões - ABL - Rio de Janeiro/RJ
Rachel Falivene - Colméia Bi/Moleca e Rede Paulista de Bissexuais - Campinas/SP
Regina Facchini - Espaço B/Assoc. da Parada do Orgulho GLBT e Rede Paulista de Bissexuais - São Paulo/SP
Rodrigo Canuto - EntreBis/Movimento D'Ellas - Rio de Janeiro/RJ
Rosa Maria Rodrigues de Oliveira - ativista independente - Florianópolis/SC
Ronaldo Gomes Neves - Viva a Diversidade e Rede Paulista de Bissexuais -
Diadema/SP
Rodrigo Braga do Couto Rosa - Identidade - Grupo de Ação Pela Cidadania LGTTB, NuDU - Núcleo de Diversidade Sexual da Unicamp e Rede Paulista de Bissexuais - Campinas/SP
Tatiana Maurano - CASVI e Rede Paulista de Bissexuais - Piracicaba/SP
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segunda-feira, 21 de junho de 2010
Contribuição de ativistas bissexuais ao XII EBGLT (novembro de 2005)
Prezadas/os companheiras/os,
A temática da bissexualidade ainda é cercada de muitos estereótipos e preconceitos, mesmo dentro do nosso movimento. É comum ouvirmos brincadeiras maldosas envolvendo bissexualidade dentro e fora do movimento, associando-a, entre outras coisas, a enrustimento, transitoriedade, indecisão, instabilidade, promiscuidade, traição. Apesar da presença cotidiana de pessoas que têm desejos, práticas e/ou identidades bissexuais no interior do movimento, essas associações não vinham sendo questionadas até muito recentemente.
No final dos anos 70, quando surgiram os primeiros grupos de militância homossexual brasileiros, práticas sexuais com homens e mulheres eram geralmente percebidas como tendo um caráter liberador. No entanto, dizer-se bissexual era relacionado a não assumir o que realmente devia ser assumido e poderia revolucionar de maneira profunda a sociedade: a homossexualidade. Nesse momento, dizer-se bissexual era igual a ser "enrustido/a".
A partir de meados dos anos 80, um outro fator entra em cena: a aids. Em tempos de "peste gay", como a aids era chamada no começo, o envolvimento sexual com homens e mulheres não é mais visto como liberador, mas como promiscuidade criminosa. Bissexualidade passa a não ter relação apenas com ser "enrustido", mas com alguém que infecta, que trai mortalmente. Esse é o momento em que se fala muito da "ponte bissexual do HIV". Apesar da aids estar, em termos epidemiológicos, mais relacionada ao sexo entre homens do que ao sexo entre mulheres, a mesma lógica se reproduz no raciocínio de algumas lésbicas, para quem uma mulher bissexual seria "suja" pelo contato com o homem, visto como necessariamente promíscuo.
Nos últimos anos, temos assistido a organização política de ativistas que se reconhecem como bissexuais e a criação de núcleos de reflexão sobre bissexualidade no interior de grupos/ONG. O crescente envolvimento de bissexuais nos fóruns de articulação regionais e nacionais do movimento atesta tal organização, bem como sua disposição de lutar pelo fortalecimento dos direitos sexuais. Queremos compartilhar com as/os companheiras/os de militância de todo o Brasil um conjunto de recentes conquistas que acreditamos fortalecer o movimento pelas liberdades de orientação sexual e de identidade de gênero como um todo. Gostaríamos, também, sensibilizar os/as participantes do XII EBGLT quanto à necessidade de discutir o tema das bissexualidades e acolher a atuação organizada de bissexuais no movimento brasileiro.
O ano de 2004 foi muito especial para nós, homens, mulheres – inclusive os/as transexuais e transgêneros – e travestis que se reconhecem como bissexuais no movimento homossexual. Desde o início de março de 2004, na Associação do Orgulho GLBT de São Paulo, têm ocorrido as reuniões do projeto Espaço B, atividades quinzenais e abertas, que têm por objetivo construir uma base de argumentação sobre direitos humanos e (bi)sexualidades e promover um ambiente de acolhimento para bissexuais. Grupos universitários como o Prisma (USP) e o Diversidade (Unicamp) têm articulado grupos pró-diversidade sexual nas universidades e acolhido bissexuais.
Ativistas bissexuais começaram a mostrar suas caras em diversos grupos: Estruturação (DF), Identidade (Campinas), Diversidade (Unicamp), Prisma (USP), Mo.Le.Ca (Campinas), Ser Humano (SP), E-Jovem (Campinas), E-Sampa (SP), Umas e Outras (SP). Uma proposta de discutir bissexualidade sem formar um grupo específico ou restringir a discussão a pessoas que se identifiquem como bissexuais tem sido desenvolvida, desde junho de 2004, pelo Mo.Le.Ca, grupo de lésbicas de Campinas.
Em junho, fundamos a lista Espaço B no yahoogrupos, que propiciou a articulação de uma rede informal de ativistas bissexuais e de ativistas apoiadoras/es por vários estados espalhados no país e levou à demanda pela ampliação do critério de inscrições no II Encontro Paulista GLBT, de modo a aceitar inscrições de ativistas formalmente identificadas/os como bissexuais. A Plenária Final do II Encontro Paulista, em agosto, aprovou: a criação da Rede B, rede estadual de ativistas bissexuais, que objetiva expandir-se e visibilizar a questão nacionalmente; o estímulo à discussão do tema bissexualidade nos grupos gays, lésbicos ou mistos já existentes, através de atividades abertas a pessoas de qualquer identidade sexual; a viabilização de campanha, no interior do movimento, com o objetivo de desconstruir imagens negativas associadas à bissexualidade e inserir a representação desse segmento em fóruns e encontros do movimento; a inclusão do segmento nas reivindicações levadas pelo movimento; e a adoção, como diretriz para a atuação dos grupos, do princípio de procurar agir através de estratégias que enfrentem a homofobia sem contrapor negativamente homossexualidade a hetero ou bissexualidade, ou sem, equivocadamente, combater hetero e/ou bissexuais.
Em outubro, nasce o Bis – Núcleo de Bissexuais do grupo Estruturação (DF) e o Jornal BIS - www.bis.jor.br - , cujos objetivos são envolver bissexuais na luta por direitos sexuais e por direito de igualdade quando se fala de direitos humanos, desconstruir mitos e idéias errôneas sobre a bissexualidade, trabalhar campanhas de prevenção às DST/AIDS, educar quanto ao uso de preservativo e distribuir material.
Em novembro de 2004, ocorreu o Encontro Nacional da Liga Brasileira de Lésbicas, onde se reconheceu a organização política das mulheres bissexuais e acolheu a presença dessas ativistas na Liga.
Em janeiro de 2005, levamos nossa demanda de reconhecimento ao Congresso da ABGLT, onde fomos acolhidas/os e nossas propostas foram agregadas ao conjunto de Teses aprovadas naquele Congresso.
Nós, ativistas bissexuais atuantes no movimento brasileiro, gostaríamos de ter reconhecido, por este encontro, instância máxima do movimento em âmbito nacional, nosso trabalho pela organização política de homens, mulheres – inclusive os/as transexuais e transgêneros – e travestis bissexuais e pelo acolhimento de bissexuais no interior do nosso movimento. Queremos continuar atuando no sentido de fortalecer o movimento pelas liberdades de orientação sexual e de identidade de gênero como um todo. Que lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e trangêneros, juntos e juntas, sejamos agentes da transformação do preconceito e do ódio em respeito e eqüidade. Afirmemos a diversidade que compõe o arco-íris do desejo e do amor humanos. Caminhemos juntas/os!
Propostas para o XII EBGLT:
- Estimular a discussão do tema bissexualidade no interior do movimento brasileiro, de modo a criar um ambiente acolhedor para pessoas que se reconhecem como bissexuais no interior do mesmo;
- Criação de uma rede nacional de ativistas bissexuais e apoiadores para estimular o debate e combater concepções estereotipadas no interior do movimento;
- Promover campanha pelo reconhecimento e respeito à bissexualidade e à organização política de bissexuais por parte dos grupos/ONG do nosso movimento;
- Incluir em todas as demandas afirmadas pelo movimento a questão da bissexualidade;
- Tão logo seja possível, reconhecer, através da inclusão do "B" de bissexuais no nome do nosso encontro nacional, a existência e organização desses/as ativistas no movimento brasileiro;
- Adotar, como diretriz para os grupos/ONG do nosso movimento, o princípio de procurar agir através de estratégias que enfrentem a homofobia sem, para tanto, combater heterossexuais e/ou bissexuais;
- Promover no interior do movimento uma discussão conceitual a respeito das distinções entre desejos, práticas e identidades sexuais, de modo a subsidiar o debate sobre sexualidades no interior do movimento e a construção de políticas públicas;
- Incentivar a participação de bissexuais em todos os eventos do movimento;
- Lutar pela inclusão do quesito orientação sexual em formulários médicos e de serviços como os centros de referência a partir do comportamento sexual (ter tido sexo com homens, mulheres, ambos ou nenhum ao longo da vida), que pode ser comparado com dados sobre identidade, a fim de que se conheça melhor as demandas de saúde ligadas à orientação sexual;
- Promover uma discussão que permita distinguir conceitualmente identidade de gênero e orientação sexual, a fim de reconhecer que travestis, transexuais e transgêneros podem ter seus desejos e práticas sexuais voltados para homens, mulheres, ambos ou mesmo para outras pessoas trans;
- Incentivar grupos e ONG para que, nas ações de prevenção e capacitação de multiplicadores, a abordagem das bissexualidades seja qualificada, a fim de otimizar a prevenção entre bissexuais, respeitando suas especificidades;
- Incentivar e propiciar espaços para que bissexuais possam discutir coletivamente e apoiar lésbicas, gays, travestis, transexuais e transgêneros no combate às assimetrias de gênero, hierarquias de papéis sexuais e toda forma de preconceito, discriminação ou violência relacionados à orientação sexual ou identidade de gênero;
- Promover ações a fim de orientar e qualificar profissionais de educação e sensibilizar acadêmicos para o acolhimento respeitoso e ações educativas que visem a plena inclusão de jovens e adolescentes bissexuais, assim como lésbicas, gays, travestis, transexuais e transgêneros, nas escolas e universidades.
Alexandra Martins (BIS - Núcleo de Bissexuais / Grupo Estruturação de Brasília - DF )
Alexandre Peixe dos Santos (Secretaria de Travestis e Transexuais/Assoc. da Parada do Orgulho GLBT SP – SP)
Alexandre Toledo (BIS - Núcleo de Bissexuais / Grupo Estruturação de Brasília – DF)
Aline de Freitas (ativista independente - SP)
Ennio Brauns (ativista independente – SP)
Isadora Lins (Espaço B / Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo - SP )
Janaina Lima (Identidade - Grupo de Ação Pela Cidadania de LGTTB - Campinas - SP)
Jorge Leite Jr (ativista independente - SP)
Mário Felipe de Lima Carvalho (Grupo Prisma - DCE Livre/USP - SP)
Rachel Falivene Tapajós (Movimento Lésbico de Campinas - MO.LE.CA - SP )
Regina Facchini (Espaço B / Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo - SP )
Rodrigo Braga do Couto Rosa (Identidade - Grupo de Ação Pela Cidadania de LGTTB - Campinas - SP)
Ronaldo Gomes Neves (Associação Viva a Diversidade - Diadema - SP)
Alejandra Sardá (Coordinadora del Programa para América Latina y el Caribe/IGLHRC – Argentina)
A temática da bissexualidade ainda é cercada de muitos estereótipos e preconceitos, mesmo dentro do nosso movimento. É comum ouvirmos brincadeiras maldosas envolvendo bissexualidade dentro e fora do movimento, associando-a, entre outras coisas, a enrustimento, transitoriedade, indecisão, instabilidade, promiscuidade, traição. Apesar da presença cotidiana de pessoas que têm desejos, práticas e/ou identidades bissexuais no interior do movimento, essas associações não vinham sendo questionadas até muito recentemente.
No final dos anos 70, quando surgiram os primeiros grupos de militância homossexual brasileiros, práticas sexuais com homens e mulheres eram geralmente percebidas como tendo um caráter liberador. No entanto, dizer-se bissexual era relacionado a não assumir o que realmente devia ser assumido e poderia revolucionar de maneira profunda a sociedade: a homossexualidade. Nesse momento, dizer-se bissexual era igual a ser "enrustido/a".
A partir de meados dos anos 80, um outro fator entra em cena: a aids. Em tempos de "peste gay", como a aids era chamada no começo, o envolvimento sexual com homens e mulheres não é mais visto como liberador, mas como promiscuidade criminosa. Bissexualidade passa a não ter relação apenas com ser "enrustido", mas com alguém que infecta, que trai mortalmente. Esse é o momento em que se fala muito da "ponte bissexual do HIV". Apesar da aids estar, em termos epidemiológicos, mais relacionada ao sexo entre homens do que ao sexo entre mulheres, a mesma lógica se reproduz no raciocínio de algumas lésbicas, para quem uma mulher bissexual seria "suja" pelo contato com o homem, visto como necessariamente promíscuo.
Nos últimos anos, temos assistido a organização política de ativistas que se reconhecem como bissexuais e a criação de núcleos de reflexão sobre bissexualidade no interior de grupos/ONG. O crescente envolvimento de bissexuais nos fóruns de articulação regionais e nacionais do movimento atesta tal organização, bem como sua disposição de lutar pelo fortalecimento dos direitos sexuais. Queremos compartilhar com as/os companheiras/os de militância de todo o Brasil um conjunto de recentes conquistas que acreditamos fortalecer o movimento pelas liberdades de orientação sexual e de identidade de gênero como um todo. Gostaríamos, também, sensibilizar os/as participantes do XII EBGLT quanto à necessidade de discutir o tema das bissexualidades e acolher a atuação organizada de bissexuais no movimento brasileiro.
O ano de 2004 foi muito especial para nós, homens, mulheres – inclusive os/as transexuais e transgêneros – e travestis que se reconhecem como bissexuais no movimento homossexual. Desde o início de março de 2004, na Associação do Orgulho GLBT de São Paulo, têm ocorrido as reuniões do projeto Espaço B, atividades quinzenais e abertas, que têm por objetivo construir uma base de argumentação sobre direitos humanos e (bi)sexualidades e promover um ambiente de acolhimento para bissexuais. Grupos universitários como o Prisma (USP) e o Diversidade (Unicamp) têm articulado grupos pró-diversidade sexual nas universidades e acolhido bissexuais.
Ativistas bissexuais começaram a mostrar suas caras em diversos grupos: Estruturação (DF), Identidade (Campinas), Diversidade (Unicamp), Prisma (USP), Mo.Le.Ca (Campinas), Ser Humano (SP), E-Jovem (Campinas), E-Sampa (SP), Umas e Outras (SP). Uma proposta de discutir bissexualidade sem formar um grupo específico ou restringir a discussão a pessoas que se identifiquem como bissexuais tem sido desenvolvida, desde junho de 2004, pelo Mo.Le.Ca, grupo de lésbicas de Campinas.
Em junho, fundamos a lista Espaço B no yahoogrupos, que propiciou a articulação de uma rede informal de ativistas bissexuais e de ativistas apoiadoras/es por vários estados espalhados no país e levou à demanda pela ampliação do critério de inscrições no II Encontro Paulista GLBT, de modo a aceitar inscrições de ativistas formalmente identificadas/os como bissexuais. A Plenária Final do II Encontro Paulista, em agosto, aprovou: a criação da Rede B, rede estadual de ativistas bissexuais, que objetiva expandir-se e visibilizar a questão nacionalmente; o estímulo à discussão do tema bissexualidade nos grupos gays, lésbicos ou mistos já existentes, através de atividades abertas a pessoas de qualquer identidade sexual; a viabilização de campanha, no interior do movimento, com o objetivo de desconstruir imagens negativas associadas à bissexualidade e inserir a representação desse segmento em fóruns e encontros do movimento; a inclusão do segmento nas reivindicações levadas pelo movimento; e a adoção, como diretriz para a atuação dos grupos, do princípio de procurar agir através de estratégias que enfrentem a homofobia sem contrapor negativamente homossexualidade a hetero ou bissexualidade, ou sem, equivocadamente, combater hetero e/ou bissexuais.
Em outubro, nasce o Bis – Núcleo de Bissexuais do grupo Estruturação (DF) e o Jornal BIS - www.bis.jor.br - , cujos objetivos são envolver bissexuais na luta por direitos sexuais e por direito de igualdade quando se fala de direitos humanos, desconstruir mitos e idéias errôneas sobre a bissexualidade, trabalhar campanhas de prevenção às DST/AIDS, educar quanto ao uso de preservativo e distribuir material.
Em novembro de 2004, ocorreu o Encontro Nacional da Liga Brasileira de Lésbicas, onde se reconheceu a organização política das mulheres bissexuais e acolheu a presença dessas ativistas na Liga.
Em janeiro de 2005, levamos nossa demanda de reconhecimento ao Congresso da ABGLT, onde fomos acolhidas/os e nossas propostas foram agregadas ao conjunto de Teses aprovadas naquele Congresso.
Nós, ativistas bissexuais atuantes no movimento brasileiro, gostaríamos de ter reconhecido, por este encontro, instância máxima do movimento em âmbito nacional, nosso trabalho pela organização política de homens, mulheres – inclusive os/as transexuais e transgêneros – e travestis bissexuais e pelo acolhimento de bissexuais no interior do nosso movimento. Queremos continuar atuando no sentido de fortalecer o movimento pelas liberdades de orientação sexual e de identidade de gênero como um todo. Que lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e trangêneros, juntos e juntas, sejamos agentes da transformação do preconceito e do ódio em respeito e eqüidade. Afirmemos a diversidade que compõe o arco-íris do desejo e do amor humanos. Caminhemos juntas/os!
Propostas para o XII EBGLT:
- Estimular a discussão do tema bissexualidade no interior do movimento brasileiro, de modo a criar um ambiente acolhedor para pessoas que se reconhecem como bissexuais no interior do mesmo;
- Criação de uma rede nacional de ativistas bissexuais e apoiadores para estimular o debate e combater concepções estereotipadas no interior do movimento;
- Promover campanha pelo reconhecimento e respeito à bissexualidade e à organização política de bissexuais por parte dos grupos/ONG do nosso movimento;
- Incluir em todas as demandas afirmadas pelo movimento a questão da bissexualidade;
- Tão logo seja possível, reconhecer, através da inclusão do "B" de bissexuais no nome do nosso encontro nacional, a existência e organização desses/as ativistas no movimento brasileiro;
- Adotar, como diretriz para os grupos/ONG do nosso movimento, o princípio de procurar agir através de estratégias que enfrentem a homofobia sem, para tanto, combater heterossexuais e/ou bissexuais;
- Promover no interior do movimento uma discussão conceitual a respeito das distinções entre desejos, práticas e identidades sexuais, de modo a subsidiar o debate sobre sexualidades no interior do movimento e a construção de políticas públicas;
- Incentivar a participação de bissexuais em todos os eventos do movimento;
- Lutar pela inclusão do quesito orientação sexual em formulários médicos e de serviços como os centros de referência a partir do comportamento sexual (ter tido sexo com homens, mulheres, ambos ou nenhum ao longo da vida), que pode ser comparado com dados sobre identidade, a fim de que se conheça melhor as demandas de saúde ligadas à orientação sexual;
- Promover uma discussão que permita distinguir conceitualmente identidade de gênero e orientação sexual, a fim de reconhecer que travestis, transexuais e transgêneros podem ter seus desejos e práticas sexuais voltados para homens, mulheres, ambos ou mesmo para outras pessoas trans;
- Incentivar grupos e ONG para que, nas ações de prevenção e capacitação de multiplicadores, a abordagem das bissexualidades seja qualificada, a fim de otimizar a prevenção entre bissexuais, respeitando suas especificidades;
- Incentivar e propiciar espaços para que bissexuais possam discutir coletivamente e apoiar lésbicas, gays, travestis, transexuais e transgêneros no combate às assimetrias de gênero, hierarquias de papéis sexuais e toda forma de preconceito, discriminação ou violência relacionados à orientação sexual ou identidade de gênero;
- Promover ações a fim de orientar e qualificar profissionais de educação e sensibilizar acadêmicos para o acolhimento respeitoso e ações educativas que visem a plena inclusão de jovens e adolescentes bissexuais, assim como lésbicas, gays, travestis, transexuais e transgêneros, nas escolas e universidades.
Alexandra Martins (BIS - Núcleo de Bissexuais / Grupo Estruturação de Brasília - DF )
Alexandre Peixe dos Santos (Secretaria de Travestis e Transexuais/Assoc. da Parada do Orgulho GLBT SP – SP)
Alexandre Toledo (BIS - Núcleo de Bissexuais / Grupo Estruturação de Brasília – DF)
Aline de Freitas (ativista independente - SP)
Ennio Brauns (ativista independente – SP)
Isadora Lins (Espaço B / Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo - SP )
Janaina Lima (Identidade - Grupo de Ação Pela Cidadania de LGTTB - Campinas - SP)
Jorge Leite Jr (ativista independente - SP)
Mário Felipe de Lima Carvalho (Grupo Prisma - DCE Livre/USP - SP)
Rachel Falivene Tapajós (Movimento Lésbico de Campinas - MO.LE.CA - SP )
Regina Facchini (Espaço B / Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo - SP )
Rodrigo Braga do Couto Rosa (Identidade - Grupo de Ação Pela Cidadania de LGTTB - Campinas - SP)
Ronaldo Gomes Neves (Associação Viva a Diversidade - Diadema - SP)
Alejandra Sardá (Coordinadora del Programa para América Latina y el Caribe/IGLHRC – Argentina)
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Carta aberta às/aos organizadores e participantes do Congresso da ABGLT (janeiro de 2005)
Prezadas/os companheiras/os,
Queremos compartilhar com as/os companheiras/os de militância de todo o Brasil um conjunto de recentes conquistas que acreditamos fortalecer o movimento pelas liberdades de orientação sexual e de identidade de gênero como um todo. Gostaríamos, também, sensibilizar a ABGLT quanto à necessidade de discutir o tema das bissexualidades e acolher a atuação organizada de bissexuais no movimento brasileiro.
O ano de 2004 foi muito especial para nós, homens e mulheres que se reconhecem como bissexuais no movimento homossexual. Desde o início de março de 2004, na Associação do Orgulho GLBT de São Paulo, têm ocorrido as reuniões do projeto Espaço B, atividades quinzenais e abertas, que têm por objetivo construir uma base de argumentação sobre direitos humanos e (bi)sexualidades e promover um ambiente de acolhimento para bissexuais. Grupos universitários como o Prisma (USP) e o Diversidade (Unicamp) têm articulado grupos pró-diversidade sexual nas universidades e acolhido bissexuais. Ativistas bissexuais começaram a mostrar suas caras em diversos grupos: Estruturação (DF), Identidade (Campinas), Diversidade (Unicamp), Prisma (USP), Mo.Le.Ca (Campinas), Ser Humano (SP), E-Jovem (Campinas), E-Sampa (SP), Umas e Outras (SP). Uma proposta de discutir bissexualidade sem formar um grupo específico ou restringir a discussão a pessoas que se identifiquem como bissexuais tem sido desenvolvida, desde junho de 2004, pelo Mo.Le.Ca, grupo de lésbicas de Campinas.
Em junho, fundamos a lista Espaço B no yahoogrupos, que propiciou a articulação de uma rede informal de ativistas bissexuais e de ativistas apoiadoras/es por vários estados espalhados no país e levou à demanda pela ampliação do critério de inscrições no II Encontro Paulista GLBT, de modo a aceitar inscrições de ativistas formalmente identificadas/os como bissexuais. A Plenária Final do II Encontro Paulista, em agosto, aprovou: a criação da Rede B, rede estadual de ativistas bissexuais, que objetiva expandir-se e visibilizar a questão nacionalmente; o estímulo à discussão do tema bissexualidade nos grupos gays, lésbicos ou mistos já existentes, através de atividades abertas a pessoas de qualquer identidade sexual; a viabilização de campanha, no interior do movimento, com o objetivo de desconstruir imagens negativas associadas à bissexualidade e inserir a representação desse segmento em fóruns e encontros do movimento; a inclusão do segmento nas reivindicações levadas pelo movimento; e a adoção, como diretriz para a atuação dos grupos, do princípio de procurar agir através de estratégias que enfrentem a homofobia sem contrapor negativamente homossexualidade a hetero ou bissexualidade, ou sem, equivocadamente, combater hetero e/ou bissexuais.
Em outubro, nascem o Bis – Núcleo de Bissexuais e o Jornal BIS do Grupo Estruturação (DF), cujos objetivos são envolver bissexuais na luta por direitos sexuais e por direito de igualdade quando se fala de direitos humanos, desconstruir mitos e idéias errôneas sobre a bissexualidade, trabalhar campanhas de prevenção às DST/AIDS, educar quanto ao uso de preservativo e distribuir material.
Em novembro, ocorreu o Encontro Nacional da Liga Brasileira de Lésbicas, onde se reconheceu a organização política das mulheres bissexuais e acolheu a presença dessas ativistas na Liga.
Nós, ativistas de núcleos bissexuais no interior de grupos filiados à ABGLT, gostaríamos de ter reconhecido, por esta Entidade Nacional, nosso trabalho pela organização política de homens e mulheres bissexuais. Queremos continuar atuando no sentido de fortalecer o movimento pelas liberdades de orientação sexual e de identidade de gênero como um todo. Que lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, juntos e juntas, sejamos agentes da transformação do preconceito e do ódio em respeito e eqüidade. Afirmemos a diversidade que compõe o arco-íris do desejo e do amor humanos. Caminhemos juntas/os!
Curitiba, 20 de janeiro de 2005.
BIS - Núcleo de Bissexuais / Grupo Estruturação (DF)
Espaço B / Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo (SP)
Queremos compartilhar com as/os companheiras/os de militância de todo o Brasil um conjunto de recentes conquistas que acreditamos fortalecer o movimento pelas liberdades de orientação sexual e de identidade de gênero como um todo. Gostaríamos, também, sensibilizar a ABGLT quanto à necessidade de discutir o tema das bissexualidades e acolher a atuação organizada de bissexuais no movimento brasileiro.
O ano de 2004 foi muito especial para nós, homens e mulheres que se reconhecem como bissexuais no movimento homossexual. Desde o início de março de 2004, na Associação do Orgulho GLBT de São Paulo, têm ocorrido as reuniões do projeto Espaço B, atividades quinzenais e abertas, que têm por objetivo construir uma base de argumentação sobre direitos humanos e (bi)sexualidades e promover um ambiente de acolhimento para bissexuais. Grupos universitários como o Prisma (USP) e o Diversidade (Unicamp) têm articulado grupos pró-diversidade sexual nas universidades e acolhido bissexuais. Ativistas bissexuais começaram a mostrar suas caras em diversos grupos: Estruturação (DF), Identidade (Campinas), Diversidade (Unicamp), Prisma (USP), Mo.Le.Ca (Campinas), Ser Humano (SP), E-Jovem (Campinas), E-Sampa (SP), Umas e Outras (SP). Uma proposta de discutir bissexualidade sem formar um grupo específico ou restringir a discussão a pessoas que se identifiquem como bissexuais tem sido desenvolvida, desde junho de 2004, pelo Mo.Le.Ca, grupo de lésbicas de Campinas.
Em junho, fundamos a lista Espaço B no yahoogrupos, que propiciou a articulação de uma rede informal de ativistas bissexuais e de ativistas apoiadoras/es por vários estados espalhados no país e levou à demanda pela ampliação do critério de inscrições no II Encontro Paulista GLBT, de modo a aceitar inscrições de ativistas formalmente identificadas/os como bissexuais. A Plenária Final do II Encontro Paulista, em agosto, aprovou: a criação da Rede B, rede estadual de ativistas bissexuais, que objetiva expandir-se e visibilizar a questão nacionalmente; o estímulo à discussão do tema bissexualidade nos grupos gays, lésbicos ou mistos já existentes, através de atividades abertas a pessoas de qualquer identidade sexual; a viabilização de campanha, no interior do movimento, com o objetivo de desconstruir imagens negativas associadas à bissexualidade e inserir a representação desse segmento em fóruns e encontros do movimento; a inclusão do segmento nas reivindicações levadas pelo movimento; e a adoção, como diretriz para a atuação dos grupos, do princípio de procurar agir através de estratégias que enfrentem a homofobia sem contrapor negativamente homossexualidade a hetero ou bissexualidade, ou sem, equivocadamente, combater hetero e/ou bissexuais.
Em outubro, nascem o Bis – Núcleo de Bissexuais e o Jornal BIS do Grupo Estruturação (DF), cujos objetivos são envolver bissexuais na luta por direitos sexuais e por direito de igualdade quando se fala de direitos humanos, desconstruir mitos e idéias errôneas sobre a bissexualidade, trabalhar campanhas de prevenção às DST/AIDS, educar quanto ao uso de preservativo e distribuir material.
Em novembro, ocorreu o Encontro Nacional da Liga Brasileira de Lésbicas, onde se reconheceu a organização política das mulheres bissexuais e acolheu a presença dessas ativistas na Liga.
Nós, ativistas de núcleos bissexuais no interior de grupos filiados à ABGLT, gostaríamos de ter reconhecido, por esta Entidade Nacional, nosso trabalho pela organização política de homens e mulheres bissexuais. Queremos continuar atuando no sentido de fortalecer o movimento pelas liberdades de orientação sexual e de identidade de gênero como um todo. Que lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, juntos e juntas, sejamos agentes da transformação do preconceito e do ódio em respeito e eqüidade. Afirmemos a diversidade que compõe o arco-íris do desejo e do amor humanos. Caminhemos juntas/os!
Curitiba, 20 de janeiro de 2005.
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4o. Encontro Paulista LGBT
Estado laico e políticas públicas
São Carlos - 1, 2 e 3 de julho de 2010
Promoção: Fórum Paulista LGBT
Organização: ONG Visibilidade LGBT
Apoio: Prefeitura Municipal de São Carlos e Secretaria Estadual da Saúde (Programa DST/Aids)
O movimento de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, e transexuais de São Paulo se reunirá em São Carlos, no início de julho para a quarta edição do Encontro Paulista LGBT, cujo objetivo maior é articular e fortalecer grupos, ongs e ativistas de todo o Estado que estão na linha de frente da luta contra homofobia. Será um momento importante em que as lideranças compartilharão informações e definirão estratégias de atuação para o próximo período.
O Encontro é uma iniciativa do Fórum Paulista LGBT(www.forumpaulistalgbt.org), rede que congrega 30 entidades e grupos de todo o Estado além de dezenas de militantes independentes. O tema escolhido é Estado laico e políticas públicas. A proposta dos organizadores é aprofundar a discussão sobre a importância da garantia da laicidade do Poder Público já que, sabidamente, discursos religiosos fundamentalistas e conservadores têm impedido o reconhecimento e o exercício de direitos por parte da população LGBT. Debaterá também as políticas públicas de combate à homofobia e promoção da cidadania LGBT, em São Paulo e no Brasil.
Em anos anteriores, os Encontros Paulistas LGBT constituiram-se em marcos importantes na consolidação e fortalecimento do movimento, sempre apontando novos rumos. A primeira edição do evento ocorreu em Campinas em 1999; a segunda foi em São Paulo em 2004 e a terceira em Assis, em 2006.
O 4º Encontro acontece em uma conjuntura de expansão e renovação do ativismo LGBT no âmbito do Fórum Paulista. Antes restrito à Capital e às grandes cidades, o movimento passa por forte interiorização em todo o Estado e prioriza a formação de base, propiciando o surgimento de novos grupos e lideranças.
Para coroar o evento, no domingo - 4 de julho - se realizará a II Parada do Orgulho de São Carlos, capitaneada pela ong Visibilidade LGBT.
O 4º Encontro Paulista LGBT é financiado pela Prefeitura Muncipal de São Carlos, com o apoio da Secretaria Estadual de Saúde, por meio do Programa DST/Aids.
BAIXE A FICHA DE INSCRIÇÃO (Copie e cole o endereço em seu navegador)
http://forumpaulistalgbt.org/documentos/FICHA_INSCRI%c7%c3O_4%ba_ENCONTRO_PAULISTA_LGBT.doc
Fonte: http://forumpaulistalgbt.org/site/content/view/221/59/
São Carlos - 1, 2 e 3 de julho de 2010
Promoção: Fórum Paulista LGBT
Organização: ONG Visibilidade LGBT
Apoio: Prefeitura Municipal de São Carlos e Secretaria Estadual da Saúde (Programa DST/Aids)
O movimento de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, e transexuais de São Paulo se reunirá em São Carlos, no início de julho para a quarta edição do Encontro Paulista LGBT, cujo objetivo maior é articular e fortalecer grupos, ongs e ativistas de todo o Estado que estão na linha de frente da luta contra homofobia. Será um momento importante em que as lideranças compartilharão informações e definirão estratégias de atuação para o próximo período.
O Encontro é uma iniciativa do Fórum Paulista LGBT(www.forumpaulistalgbt.org), rede que congrega 30 entidades e grupos de todo o Estado além de dezenas de militantes independentes. O tema escolhido é Estado laico e políticas públicas. A proposta dos organizadores é aprofundar a discussão sobre a importância da garantia da laicidade do Poder Público já que, sabidamente, discursos religiosos fundamentalistas e conservadores têm impedido o reconhecimento e o exercício de direitos por parte da população LGBT. Debaterá também as políticas públicas de combate à homofobia e promoção da cidadania LGBT, em São Paulo e no Brasil.
Em anos anteriores, os Encontros Paulistas LGBT constituiram-se em marcos importantes na consolidação e fortalecimento do movimento, sempre apontando novos rumos. A primeira edição do evento ocorreu em Campinas em 1999; a segunda foi em São Paulo em 2004 e a terceira em Assis, em 2006.
O 4º Encontro acontece em uma conjuntura de expansão e renovação do ativismo LGBT no âmbito do Fórum Paulista. Antes restrito à Capital e às grandes cidades, o movimento passa por forte interiorização em todo o Estado e prioriza a formação de base, propiciando o surgimento de novos grupos e lideranças.
Para coroar o evento, no domingo - 4 de julho - se realizará a II Parada do Orgulho de São Carlos, capitaneada pela ong Visibilidade LGBT.
O 4º Encontro Paulista LGBT é financiado pela Prefeitura Muncipal de São Carlos, com o apoio da Secretaria Estadual de Saúde, por meio do Programa DST/Aids.
BAIXE A FICHA DE INSCRIÇÃO (Copie e cole o endereço em seu navegador)
http://forumpaulistalgbt.org/documentos/FICHA_INSCRI%c7%c3O_4%ba_ENCONTRO_PAULISTA_LGBT.doc
Fonte: http://forumpaulistalgbt.org/site/content/view/221/59/
Bissexualidade em movimento (agosto de 2004)
Por Regina Facchini
O II Encontro Paulista GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros), realizado entre 06 e 08 de agosto de 2004 na cidade de São Paulo, trouxe uma importante contribuição para o modo como o movimento por direitos sexuais tem trabalhado a questão de diversidade sexual. Pela primeira vez na história do movimento brasileiro, as/os bissexuais tiveram oportunidade de participar de um encontro do movimento de forma politicamente organizada
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É comum ouvirmos brincadeiras maldosas envolvendo bissexualidade dentro e fora do movimento. O termo mais habitual para referir-se a bissexuais, ainda hoje, é o famoso “gilete”. O que sugere a idéia de “gilete”? Algo que corta dos dois lados? Alguém que tem a possibilidade de manipular e ocultar “o outro lado”? Que pode enganar, trair, machucar? Que tem mais chances de ter companhia num sábado à noite?
Mas o que sabemos de fato a respeito do comportamento de pessoas enquadráveis no termo bissexual? Será que as pessoas querem sempre qualquer companhia num sábado à noite? Como será viver levando o peso de “ser gilete”? Apesar da presença cotidiana de pessoas que têm desejos, práticas e/ou identidades bissexuais no interior do movimento essas questões não vinham sendo debatidas até muito recentemente.
No final dos anos 70, quando surgiram os primeiros grupos de militância homossexual brasileiros, a prática de transar com homens e mulheres era geralmente percebida como tendo um caráter liberador. No entanto, dizer-se bissexual era relacionado a não assumir o que realmente devia ser assumido e poderia revolucionar de maneira profunda a sociedade: a homossexualidade. Nesse momento, dizer-se bissexual era igual a ser “enrustida/o”. Era muito importante afirmar “Sim, eu sou bicha!”, “Sim, eu sou lésbica!”
A partir de meados dos anos 80, um outro fator entra em cena: a aids. Em tempos de “peste gay” – como a aids era chamada no começo - , transar com homens e mulheres não é mais liberador, mas promiscuidade criminosa. Bissexualidade não tem relação apenas com ser “enrustido”, mas ser alguém que contamina, que trai mortalmente. Esse é o momento em que se fala muito da “ponte bissexual do HIV”. Apesar da aids estar, em termos epidemiológicos, mais relacionada ao sexo entre homens do que ao sexo entre mulheres, a mesma lógica se reproduz no raciocínio de muitas lésbicas, para quem uma mulher bissexual seria “suja” pelo contato com o homem, visto como necessariamente promíscuo.
Entramos nos anos 2000, não se fala mais em “grupos de risco”, mas o movimento parece ter demorado um pouco para se livrar de todo estigma que foi sendo construído sobre a figura do/a bissexual e para questionar o fato de que falar em “ponte bi” é apenas tradução do preconceito homofóbico: o “homossexual sujo” contaminando o “universo heterossexual” puro.
Neste ano de 2004, a Parada do Orgulho GLBT levou mais de um milhão e meio de pessoas para as ruas de São Paulo e foram organizadas quarenta e duas paradas, com os mais variados tamanhos, pelas mais diferentes localidades do país. Desde o final dos anos 90, as paradas falam em diversidade e, nos últimos dois anos, começaram a surgir grupos ativistas que tomam por base a idéia de diversidade sexual, como o grupo Prisma, que se reúne na USP, e o Diversidade, que se reúne na Unicamp.
Ao tomarmos por base este contexto, me vêem à cabeça várias perguntas. Em que medida o reconhecimento da bissexualidade e, por extensão, da diversidade sexual podem ser vistos como ameaça à visibilidade dos gays e das lésbicas? Não seria mais lógico pensar que a organização política de bissexuais pode representar mais um passo no sentido de explicitar a diversidade interna da “comunidade”? Se as paradas já deram uma solução alternativa à necessidade de assumir-se individualmente, será que centrar forças no assumir-se gay/lésbica, como estratégia militante, deve continuar tendo o mesmo peso que tinha anteriormente nas estratégias do movimento? Que luta por emancipação e cidadania é essa que, para existir, precisa negar a existência do outro e da diversidade?
Desde o início de março de 2004, na Associação do Orgulho GLBT de São Paulo, têm ocorrido as reuniões do projeto Espaço B, atividades quinzenais e abertas, que têm por objetivo construir uma base de argumentação sobre direitos humanos e (bi)sexualidades. Uma proposta semelhante - discutir bissexualidade sem formar um grupo específico ou restringir a discussão a pessoas que se identifiquem como bissexuais - tem sido desenvolvida, desde junho deste ano, pelo Mo.Le.Ca, grupo de lésbicas de Campinas.
A articulação de uma rede informal de ativistas bissexuais e a formação desses espaços de discussão em grupos levou à demanda pela ampliação do critério de inscrições no II Encontro Paulista GLBT, de modo a aceitar inscrições de ativistas formalmente identificadas/os como bissexuais. No dia 08/08 pela manhã, 14 ativistas de várias localidades do estado (14% dos representantes de grupos inscritos no Encontro), formalmente inscritas/os como bissexuais, reuniram-se no II Encontro Paulista GLBT para discutir propostas específicas para o segmento.
Entre as decisões tomadas pelo segmento B e aprovadas na Plenária Final do II Encontro Paulista estão:
- a criação da Rede B, rede estadual de ativistas bissexuais, que procurará expandir-se e visibilizar a questão nacionalmente;
- o estímulo à discussão do tema bissexualidade nos grupos gays, lésbicos ou mistos já existentes, através de atividades abertas a pessoas de qualquer identidade sexual;
- a viabilização de campanha, no interior do movimento, com o objetivo de desconstruir imagens negativas associadas à bissexualidade e inserir a representação desse segmento em fóruns e encontros do movimento; a inclusão do segmento nas reivindicações levadas pelo movimento;
- e a adoção, como diretriz para a atuação dos grupos, do princípio de procurar agir através de estratégias que enfrentem a homofobia sem contrapor negativamente homossexualidade a hetero ou bissexualidade, ou sem, equivocadamente, combater hetero e/ou bissexuais.
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Carta a uma amiga bissexual (maio de 2010)
Olá!!! Quanto tempo, não?! Espero que esteja bem!
Bom, escrevo a ti na verdade para dizer sobre minhas aspirações, que sentem falta de um feedback, pois essa questão de assumir a bissexualidade é muito solitária. Na maioria das vezes não tem eco. Tenho participado do movimento da maneira que posso, pois estou trabalhando no governo do estado, na cultura e viajo muito.
E isso faz com que eu pense, repense, me indigne. Vontade de dizer tantas coisas, mas ao mesmo tempo cansada de não ter retorno. No último encontro que participei, fiquei vários dias ouvindo sobre a visibilidade lésbica, em muitos momentos me sentindo um gasparzinho...rs. Ver pessoas até engasgar na hora de falar "bissexualidade" ou falando simplesmente pro forma e quando levanto para falar, vem aquele sentimento de alguém falando: "lá vem aquela de novo dizer que é bissexual".
Bom, foi assim praticamente todos os dias. O primeiro dia senti que esse negócio de só ouvir sobre lésbicas é muito chato. No segundo dia achei que pelos menos dizendo mulheres bissexuais, várias vezes já é um ganho porque, quem sabe assim, um dia nós entraremos na pauta de discussão do movimento. No terceiro dia, quando estávamos discutindo as propostas de cultura e as companheiras falando da cultura lésbica e que da bissexual não precisava falar, pois já estava contemplada nas lésbicas, foi demais.
Então, qual é o problema? Eu não me sinto contemplada, sou bissexual e não lésbica. Estou cansada de dizerem que quando estou com mulher sou lésbica, quando estou com homem sou heterossexual. Não! Sou bissexual independente de com quem esteja, amo as pessoas independentemente do seu sexo. Isso é o que me define! Minha identidade sexual é bissexual!
As lésbicas se preocupam tanto com a saúde das lésbicas, tentando provar que entre lésbicas não pega Aids. Então eu sou o que? Sou um hospedeiro? Se entre mulheres não pega aids então quem carrega a Aids somos nós bissexuais? E aí? Se somos nós que fazemos, porque então não pesquisar também a saúde de nós bissexuais?
Uma coisa que me marcou nesse encontro foi esse insight sobre o bissexual ser o hospedeiro. Porque é essa a impressão que muitas de nós temos quando vemos o desagrado de uma mulher ou um homem ao lhes informar a nossa sexualidade. Uma cara de nojo, como se fosse suja.
Porque não falar sobre bissexualidade? Nós somos safadas? Porque não nos definimos? Oras, safadeza é questão de caráter e não questão de identidade sexual!
Se um homem é casado com uma mulher e a trai com outro homem, ele pode tanto ter desejo pelos dois sexos, ser um heterossexual precisando viver outras coisas na sua vida, como ser alguém que poderia ser gay mas que não conseguiu lidar com seus desejos e com as pressões sociais que ainda hoje existem com relação à homossexualidade.
Nós não somos bem resolvidas? Me desculpe decepcioná-las. Mas eu sou muito bem resolvida. Amo as pessoas independentemente do seu sexo, sou bissexual. Só que se você for bissexual, se tem uma relação com uma mulher e em outro momento está com um homem, você é promíscua, segundo dizem?
Então precisamos discutir outra coisa também, qual é a definição de promiscuidade? É transar com mais de uma pessoa ao mesmo tempo? Se for isso, as lésbicas e os heterossexuais também o fazem e são. Eu sou bissexual, já transei e me relacionei com homens e mulheres, embora com um de cada vez. E isso envolve outras questões, como: qual o contrato de relacionamento que você tem? É de exclusividade sexual? É aberto? Aberto em relação a sexo ou a afeto também? Contratos de relacionamento independem da sua identidade sexual.
É puro preconceito, isso mesmo, no sentido literal da palavra: pré conceito, discriminamos e temos medo daquilo que não conhecemos. Se formos continuar negando a bissexualidade, então é melhor nos tirar do movimento. Por que dizer que há bissexuais no movimento? Por que chamar um seminário nacional de lésbicas e mulheres bissexuais, se não se discute nunca a bissexualidade? Não parece meio perverso criar a expectativa de que eu que sou bissexual posso ir a esses lugares, mas chegando lá tenho de estar contemplada em falar apenas de uma parte de mim, de meus desejos e das minhas vivências?
Mas não me sinto na obscuridade. Na verdade entrei no movimento me identificando como bissexual. O problema são os outros, eles é que precisam sair dessa hipocrisia. Tenho certeza que há várias companheiras bissexuais que sofrem demais, pois tem de passar por lésbicas para serem aceitas.
Entendo que cada um tem o seu tempo. Mas não posso deixar de lutar por reconhecimento. As lésbicas querem visibilidade para que os seus direitos sejam respeitados? Pois é, nós bissexuais também queremos. Só que com um agravante, temos que lutar pela nossa visibilidade como bissexual na sociedade, e o que é pior, também dentro do movimento.
Eu quero respeito, quero que a bissexualidade seja colocada como ponto de pauta, não só uma sigla a ser mencionada para que as bissexuais se sintam contempladas.
Será que nossa identidade, nossas formas de nos relacionarmos, nossa sexualidade, nossas necessidades na área da saúde e em tantas outras não trazem também questões específicas? Essas devem ser pautadas e discutidas pelo movimento para a formulação de propostas específicas de reivindicações políticas e lutas, mas também para pensar no que é comum às duas identidades.
Para além disso, existem coisas mais profundas para dentro e fora do movimento que devem ser discutidas. A bissexualidade é o nome que damos pra uma série de inquietações nesta vida. Não acredito que exista uma coisa com a qual a gente nasce chamada bissexualidade.
A bissexualidade é um nome que damos para a nossa incapacidade de nos sentirmos confortáveis na distinção entre heterossexualidade e homossexualidade. Mas sabemos que esse não-lugar se expressa de diferentes maneiras, é constituído por diferentes desejos: tanto por gostar de pessoas, quanto por gostar de X coisas em mulheres e em Y coisas em homens, ou sei lá mais por que formas. Mas já que demos esse nome pra essa inquietação, a esse não-lugar, e que nos entendemos como bissexuais, apesar da pluralidade de nossas vivências pessoais, é uma possibilidade de encontrarmos conforto, é importante para nós que as pessoas reconheçam que há gente que não se sente heterossexual nem homossexual.
É tudo muito complexo e deve ser conversado sobre, sem amarras, sem repressão. Algumas amigas lésbicas vieram falar comigo e eu até brinquei que não fui eu que inventei a bissexualidade, me deram o livro da Marta Suplicy, eu li e me identifiquei, agora o problema é de vocês (risos).
Para dentro do movimento é isso: esse lugar nos dá conforto e precisamos que ele seja reconhecido, isso é certo. Mas o mundo não se divide em branco e preto, há vários tons de cinza. Podemos dar um nome pra esses vários tons, mas é importante reconhecer e respeitar a existência deles.
Acho que isso é saudável pro movimento e para nós também: entendermos que Gays e Lésbicas não são blocos homogêneos, eles também têm várias tonalidades. Há diversas classes sociais, cores/raças, idades, além das singularidades, mas as caixinhas nos encaixotam. Elas são importantes para fazer política, mas não podem falar diretamente a linguagem da diversidade. Por isso é saudável reconhecer a diversidade interna de cada caixinha e também a diversidade da sexualidade: há pessoas que não se sentem homossexuais nem heterossexuais.
Que me chamem de Bissexual, que chamem de B, que transformem em letrinha, mas que reconheçam que há algo para além da heterossexualidade e da homossexualidade. Enfim, que reconheçam meu direito a existir.
Tatiana Ranzani Maurano - PE
Regina Facchini - SP
Fabiana Karine de Jesus - RJ
(documento para provocar debate escrito no formato de carta a várias mãos pelas mulheres que o assinam, 15/05/2010. Estamos dispersas, mas ainda vivas e operantes)
Bom, escrevo a ti na verdade para dizer sobre minhas aspirações, que sentem falta de um feedback, pois essa questão de assumir a bissexualidade é muito solitária. Na maioria das vezes não tem eco. Tenho participado do movimento da maneira que posso, pois estou trabalhando no governo do estado, na cultura e viajo muito.
E isso faz com que eu pense, repense, me indigne. Vontade de dizer tantas coisas, mas ao mesmo tempo cansada de não ter retorno. No último encontro que participei, fiquei vários dias ouvindo sobre a visibilidade lésbica, em muitos momentos me sentindo um gasparzinho...rs. Ver pessoas até engasgar na hora de falar "bissexualidade" ou falando simplesmente pro forma e quando levanto para falar, vem aquele sentimento de alguém falando: "lá vem aquela de novo dizer que é bissexual".
Bom, foi assim praticamente todos os dias. O primeiro dia senti que esse negócio de só ouvir sobre lésbicas é muito chato. No segundo dia achei que pelos menos dizendo mulheres bissexuais, várias vezes já é um ganho porque, quem sabe assim, um dia nós entraremos na pauta de discussão do movimento. No terceiro dia, quando estávamos discutindo as propostas de cultura e as companheiras falando da cultura lésbica e que da bissexual não precisava falar, pois já estava contemplada nas lésbicas, foi demais.
Então, qual é o problema? Eu não me sinto contemplada, sou bissexual e não lésbica. Estou cansada de dizerem que quando estou com mulher sou lésbica, quando estou com homem sou heterossexual. Não! Sou bissexual independente de com quem esteja, amo as pessoas independentemente do seu sexo. Isso é o que me define! Minha identidade sexual é bissexual!
As lésbicas se preocupam tanto com a saúde das lésbicas, tentando provar que entre lésbicas não pega Aids. Então eu sou o que? Sou um hospedeiro? Se entre mulheres não pega aids então quem carrega a Aids somos nós bissexuais? E aí? Se somos nós que fazemos, porque então não pesquisar também a saúde de nós bissexuais?
Uma coisa que me marcou nesse encontro foi esse insight sobre o bissexual ser o hospedeiro. Porque é essa a impressão que muitas de nós temos quando vemos o desagrado de uma mulher ou um homem ao lhes informar a nossa sexualidade. Uma cara de nojo, como se fosse suja.
Porque não falar sobre bissexualidade? Nós somos safadas? Porque não nos definimos? Oras, safadeza é questão de caráter e não questão de identidade sexual!
Se um homem é casado com uma mulher e a trai com outro homem, ele pode tanto ter desejo pelos dois sexos, ser um heterossexual precisando viver outras coisas na sua vida, como ser alguém que poderia ser gay mas que não conseguiu lidar com seus desejos e com as pressões sociais que ainda hoje existem com relação à homossexualidade.
Nós não somos bem resolvidas? Me desculpe decepcioná-las. Mas eu sou muito bem resolvida. Amo as pessoas independentemente do seu sexo, sou bissexual. Só que se você for bissexual, se tem uma relação com uma mulher e em outro momento está com um homem, você é promíscua, segundo dizem?
Então precisamos discutir outra coisa também, qual é a definição de promiscuidade? É transar com mais de uma pessoa ao mesmo tempo? Se for isso, as lésbicas e os heterossexuais também o fazem e são. Eu sou bissexual, já transei e me relacionei com homens e mulheres, embora com um de cada vez. E isso envolve outras questões, como: qual o contrato de relacionamento que você tem? É de exclusividade sexual? É aberto? Aberto em relação a sexo ou a afeto também? Contratos de relacionamento independem da sua identidade sexual.
É puro preconceito, isso mesmo, no sentido literal da palavra: pré conceito, discriminamos e temos medo daquilo que não conhecemos. Se formos continuar negando a bissexualidade, então é melhor nos tirar do movimento. Por que dizer que há bissexuais no movimento? Por que chamar um seminário nacional de lésbicas e mulheres bissexuais, se não se discute nunca a bissexualidade? Não parece meio perverso criar a expectativa de que eu que sou bissexual posso ir a esses lugares, mas chegando lá tenho de estar contemplada em falar apenas de uma parte de mim, de meus desejos e das minhas vivências?
Mas não me sinto na obscuridade. Na verdade entrei no movimento me identificando como bissexual. O problema são os outros, eles é que precisam sair dessa hipocrisia. Tenho certeza que há várias companheiras bissexuais que sofrem demais, pois tem de passar por lésbicas para serem aceitas.
Entendo que cada um tem o seu tempo. Mas não posso deixar de lutar por reconhecimento. As lésbicas querem visibilidade para que os seus direitos sejam respeitados? Pois é, nós bissexuais também queremos. Só que com um agravante, temos que lutar pela nossa visibilidade como bissexual na sociedade, e o que é pior, também dentro do movimento.
Eu quero respeito, quero que a bissexualidade seja colocada como ponto de pauta, não só uma sigla a ser mencionada para que as bissexuais se sintam contempladas.
Será que nossa identidade, nossas formas de nos relacionarmos, nossa sexualidade, nossas necessidades na área da saúde e em tantas outras não trazem também questões específicas? Essas devem ser pautadas e discutidas pelo movimento para a formulação de propostas específicas de reivindicações políticas e lutas, mas também para pensar no que é comum às duas identidades.
Para além disso, existem coisas mais profundas para dentro e fora do movimento que devem ser discutidas. A bissexualidade é o nome que damos pra uma série de inquietações nesta vida. Não acredito que exista uma coisa com a qual a gente nasce chamada bissexualidade.
A bissexualidade é um nome que damos para a nossa incapacidade de nos sentirmos confortáveis na distinção entre heterossexualidade e homossexualidade. Mas sabemos que esse não-lugar se expressa de diferentes maneiras, é constituído por diferentes desejos: tanto por gostar de pessoas, quanto por gostar de X coisas em mulheres e em Y coisas em homens, ou sei lá mais por que formas. Mas já que demos esse nome pra essa inquietação, a esse não-lugar, e que nos entendemos como bissexuais, apesar da pluralidade de nossas vivências pessoais, é uma possibilidade de encontrarmos conforto, é importante para nós que as pessoas reconheçam que há gente que não se sente heterossexual nem homossexual.
É tudo muito complexo e deve ser conversado sobre, sem amarras, sem repressão. Algumas amigas lésbicas vieram falar comigo e eu até brinquei que não fui eu que inventei a bissexualidade, me deram o livro da Marta Suplicy, eu li e me identifiquei, agora o problema é de vocês (risos).
Para dentro do movimento é isso: esse lugar nos dá conforto e precisamos que ele seja reconhecido, isso é certo. Mas o mundo não se divide em branco e preto, há vários tons de cinza. Podemos dar um nome pra esses vários tons, mas é importante reconhecer e respeitar a existência deles.
Acho que isso é saudável pro movimento e para nós também: entendermos que Gays e Lésbicas não são blocos homogêneos, eles também têm várias tonalidades. Há diversas classes sociais, cores/raças, idades, além das singularidades, mas as caixinhas nos encaixotam. Elas são importantes para fazer política, mas não podem falar diretamente a linguagem da diversidade. Por isso é saudável reconhecer a diversidade interna de cada caixinha e também a diversidade da sexualidade: há pessoas que não se sentem homossexuais nem heterossexuais.
Que me chamem de Bissexual, que chamem de B, que transformem em letrinha, mas que reconheçam que há algo para além da heterossexualidade e da homossexualidade. Enfim, que reconheçam meu direito a existir.
Tatiana Ranzani Maurano - PE
Regina Facchini - SP
Fabiana Karine de Jesus - RJ
(documento para provocar debate escrito no formato de carta a várias mãos pelas mulheres que o assinam, 15/05/2010. Estamos dispersas, mas ainda vivas e operantes)
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